Sem palavras – Revista Kasmurro

O joelho se chama joelho, mas a parte atrás do joelho, onde forma a dobrinha, não tem nome, é só a parte atrás do joelho. Queria que tivesse um nome para a linha que divide seu ombro do seu peito quando você está tenso, mas isso também não tem nome. Só me resta dizer que sou louca pela linha-que-divide-seu-ombro-do-seu-peito. Queria um nome também para o desenho que os sinais formam nas suas costas, para dizer que esse desenho (sem nome) te torna uma pessoa única, assim como é único o que sinto por você. Há palavras que não existem, já outras, existem mesmo sem ter muita importância, como os lóbulos das orelhas e as falanges dos dedos. Existem também algumas palavras difíceis, daquelas que ficam entaladas dentro da boca, ou por ter uma pronuncia complicada, ou por ter um significado difícil, como saudade. Mas as palavras, mesmo as complicadas ou as que não existem, continuam sendo só palavras. Continuam sendo só uma forma de descrever o que existe. A linha entre seu ombro e seu peito não deixa de existir só porque não consigo expressá-la com uma palavra. O mesmo vale para sentimentos que não são nomeados nem batizados. Eles continuam ali, esperando um nome para confirmar e garantir suas existências. Só que as garantias são raras no mundo real. Na maioria das vezes, só existem no mundo das palavras. Essa falta de garantias e de palavras deixa um espaço que cada vez aumenta mais, sendo ocupado pelo contato com a pele quentinha de manhã, pelo que ando sentindo por você e por outras sensações que ainda não têm nome.

Disponível em: https://revistakasmurro.art.blog/2020/08/24/sem-palavras/

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