A maternidade solo, por definição, carrega um sentimento de solidão. As responsabilidades assumidas unicamente pela mãe vão desde o provimento financeiro até o cansaço por ser a única pessoa a passar noites mal dormidas quando a cria fica doente, passando pela tomada solitária das mais diversas decisões necessárias para criar e educar uma criança. Ainda assim, considerando a alta capacidade de adaptação do ser humano e a rede de apoio construída ao longo dos anos, exercer a maternidade solo não me parecia estar além das minhas capacidades.
Ocorre que esse equilíbrio foi ameaçado com o início da pandemia e da necessidade de distanciamento social, quando tive o privilégio de passar a trabalhar remotamente para minimizar as chances de contágio com Covid-19. Até esse momento, meu conceito de rede de apoio se limitava às pessoas e instituições que ajudavam diretamente na criação das minhas filhas, tais como a creche/colégio, a babá, além de familiares e amigos que participam ativamente da vida das minhas pequenas.
O que eu nunca tinha enxergado é que tudo o que sempre contribuiu para me manter bem, esse conjunto de pessoas e atividades também constituía a rede de apoio necessária para a maternidade solo. Isso é, a prática de atividades físicas, o encontro para beber vinho com amigos e, por que não, a rotina de trabalho no escritório.
Visando a segurança da família durante a pandemia, minha rotina foi totalmente reestruturada para um formato em que, muitas vezes, eu passava vários dias seguidos interagindo presencialmente só com minhas filhas.
Como mãe, sempre entendi ser essencial para o desenvolvimento infantil o convívio com outras crianças. Mas apesar de avaliar continuamente este ponto para minhas filhas, nunca tinha pensado racionalmente de que a mesma necessidade também se aplicava à mim.
Adultos também precisam conviver com seus iguais para se desenvolverem, ainda que seja um desenvolvimento com características diferentes do infantil. Foi então que percebi que encontrar seus pares é uma necessidade básica para o bem-estar do ser humano, não somente para as crianças. Uma necessidade que não estava sendo plenamente atendida no meu caso e, provavelmente, para diversas outras mães solo.
Diante dessa experiência, passei a valorizar atividades simples, como o ato de colocar uma roupa formal de manhã, almoçar com colegas de trabalho, passar pelas vitrines das lojas perto do escritório e ter uma conversa rápida ao cruzar com um conhecido esperando o elevador. Me surpreendi ao perceber que, após quase dois anos trabalhando remotamente, aguardo ansiosamente meu retorno ao trabalho presencial nas próximas semanas, que contará com todos os protocolos de segurança adequados ao que chamam de novo-normal.
A maternidade solo sempre vai carregar um sentimento de solidão, mas acredito que esse possa ser amenizado com a retomada da rotina de trabalho presencial e consequente proximidade de outros adultos.
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