Após ser repetida por décadas, a máxima de que “homem não chora” ganhou novos contornos. A tão necessária luta pelo empoderamento feminino estendeu a necessidade de invencibilidade embrutecida também para as mulheres. Na privilegiada realidade das mulheres que alcançam igualdade salarial, independência financeira e possibilidade de serem “chefes de família”, a equidade de gênero levou à pressão para que mulheres também não chorem. Pelo menos, não as empoderadas. Não as que conseguem criar seus filhos sozinhas. Não as que lutam com os homens de igual para igual nas mais diversas áreas profissionais. Não as que abriram mão do monopólio das atividades domésticas, acreditando na divisão de direitos e deveres.
Em meio ao orgulho pelas conquistas feministas, resta um questionamento ainda não respondido: como conciliar o empoderamento com a fragilidade que é (ou deveria ser) inerente a todos os seres humanos? Qual a forma de combinar força e sensibilidade? Após tanto esforço para distanciamento do papel de vítima, qual a posição a ser ocupada em situações de perda, traição, dificuldade ou abandono?
Em prol de horizontes mais amplos, as mulheres abriram mão do clichê do sexo frágil, mas a indesejada fragilidade continua acometendo ambos os sexos indistintamente. Pessoas com e sem filhos. Hetero, bi e homossexuais. Construindo um relacionamento afetivo ou em voo solo. Em todas as classes sociais, independente da religião ou etnia.
Mulher também chora, entra em depressão, pede ajuda, fica triste e se desorienta. Mesmo as empoderadas, por mais contraditório que isso possa parecer. Assumir vulnerabilidades não nos torna menos capazes, e sim mais humanas.
Após tantas lutas e conquistas do feminismo, um dos grandes desafios continua sendo o mesmo que já foi verbalizado e é repetido pelas últimas gerações: “hay que endurecerse pero sin perder la ternura.” Um conceito que as mães já costumam utilizar com seus filhos, só que precisa ser expandido também para os demais assuntos que permeiam a vida das mulheres empoderadas.
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