Carta aos pais que se dizem feministas – revista mães que escrevem

Um dos avanços do feminismo foi aumentar sua visibilidade a ponto de diversos homens e pais se motivarem a serem feministas. Afinal, esse título passou a ser esperado e cobrado em alguns meios. Mas ser feminista vai bem além de se declarar como tal, é uma forma de se posicionar ao longo da vida; inclusive com sua companheira e/ou com a mãe de seus filhos.
Visando esclarecer o que seria um pai feminista ou machista, trago aqui algumas reflexões e exemplos sobre o assunto.

Assumir que a obrigação de cuidar dos filhos é exclusiva, ou primordialmente, da mãe, é machismo. No caso de pais separados, delegar sistematicamente a uma mulher (avó, madrasta, tia, etc.) o papel de cuidador primário nos dias em que os filhos estão com você, também é machismo.

Não se disponibilizar para fins de semanas alternados ou para outra combinação fixa, que garanta, pelo menos, duas noites com a criança por semana, por ter certeza de que a mãe vai dar um jeito de suprir a ausência paterna, é machismo.
Não buscar a criança para preservá-la de ter contato com seu novo e recente relacionamento, não te torna um pai zeloso. Ao contrário, te torna um pai machista, que não garante à mãe o direito de também investir num novo relacionamento preservando a criança. Alegar que não busca a criança porque não consegue dormir bem enquanto cuida do filho, isso é absolutamente incompatível com qualquer ponto de vista feminista.

Também é machismo achar que a mãe tem obrigação de enviar fraldas, alimentos e todos os consumíveis que a criança precisará enquanto estiver com você. Principalmente se forem itens básicos, como uma caixa de leite integral.

O fato de a criança morar com a mãe, não reduz as responsabilidades e obrigações paternas, a não ser num ponto de vista machista. Por exemplo, um pai feminista entende ter 50% da responsabilidade de se mobilizar quando a criança adoece e precisa ser apanhada na creche e/ou levada ao médico, mesmo que isso impacte na sua rotina de trabalho.

Atender ao pedido da mãe e fazer alguma tarefa, como levar a criança para tomar vacina ou para tirar a identidade, não te torna um pai excepcional, mas somente um pai. Aliás, um pai machista, que deixa a responsabilidade de verificar a necessidade de vacinas e documentos exclusivamente com a mãe, atuando somente quando demandado.

Trocar uma fralda ou dar um banho na criança não é ajudar a mãe, nem é algo que a mãe precise agradecer. Isso é somente ser pai. Aliás, um pai machista, caso tenha sido necessário que a mãe alerte sobre a necessidade da troca de fralda ou do banho. Achar que a mãe está te fazendo de babá quando pede que fique com a criança, é o cúmulo do machismo. Pai não é babá, é alguém com tanta responsabilidade sobre os filhos quanto a mãe.

É inesgotável a lista de exemplos de atitudes machistas de pais que se acham feministas. Esses foram somente alguns deles. Para ser um pai feminista, não basta acreditar que sua filha tem os mesmos direitos que os meninos, ou dizer a seu filho para tratar as meninas com respeito. É preciso também educar pelo exemplo e ter atitudes verdadeiramente feministas com as mulheres que cuidam de suas crianças. Principalmente com as mulheres que deveriam ter tão somente o mesmo grau de responsabilidade e comprometimento com os filhos que vocês, os supostos pais feministas.

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