Apesar de parecer um questionamento simples, até agora não encontrei nenhuma resposta clara, muito menos objetiva.
Logo nos primeiros meses da minha pequena, os sinais mais evidentes de sua felicidade eram os sorrisos, e depois as gargalhadas. Mas será que um bebê sorridente é necessariamente feliz? Ou mais feliz do que um bebê menos sorridente? Seriam infelizes os bebês que sorriam pouco?
Quanto mais o tempo passava, mais complexas essas perguntas se tornavam. Afinal, as formas de interação com o mundo gradativamente deixaram de se limitar a sorrisos e choros e ganharam também gestos, carinhos, e finalmente palavras.
Uma criança que se porta de forma agradável com os demais é sinônimo de uma criança feliz? A criança que se queixa ou impõe sua vontade seria menos feliz do que a que aceita tudo gentilmente? Ou seria o inverso? Talvez o bom comportamento pela necessidade de ser aceita e amada fosse, ao contrário, sinônimo de infelicidade.
Nunca consegui fazer nenhuma associação satisfatória entre a felicidade e a quantidade de sorrisos, birras ou outras formas da criança interagir com o mundo. Entretanto, havia um momento em que eu conseguia ter quase certeza de que minha filha estava feliz: quando ela começava a cantar animadamente estando sozinha. A música, enfim, parecia ser um bom medidor de felicidade.
Com a chegada da adolescência, aumentou a complexidade de todas as questões referentes à minha filha. Foi como se a criança que eu conhecia tivesse ido passar longas férias em outro planeta, enquanto chegou na minha casa um estrangeiro desconhecido em intercâmbio.
Esse intercambista balbucia poucas palavras no meu idioma, no ambiente que costumava ser recheado de trocas e diálogos. Nesse contexto, a dúvida a respeito de sua felicidade virou um dos maiores mistérios do mundo, ou do meu mundo, pelo menos.
Mesmo sem ter conseguido estabelecer relação direta entre sorrisos e felicidade, durante a infância, estas e outras demonstrações de (talvez) felicidade aconteciam com meu conhecimento. Já na adolescência, as eventuais demonstrações de felicidade são, na maior parte das vezes, destinadas aos amigos, e não para a mãe.
Por outro lado, a mãe costuma ser a principal receptora dos atos de rebeldia. Mas será que um adolescente que se rebela com a mãe para firmar sua própria identidade é menos feliz do que outro que continua seguindo as orientações da mãe obedientemente? Ou, ao contrário, a rebeldia é justamente a chave para a construção de sua própria independência e, consequentemente, felicidade?
Minhas perguntas continuam sem respostas, só se tornaram mais complexas. Resta a esperança de que, ao chegar na idade adulta, minha filha seja capaz de concluir se foi feliz na sua infância e adolescência, e se questionar se está construindo um caminho na direção da sua felicidade.
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