O pedido que faço quando vejo uma estrela cadente, depois que me tornei mãe – revista mães que escrevem

Meu maior desejo, como mãe, é que todos os mitos que circundam a maternidade fossem verdade. Que as grávidas fossem como as mulheres sorridentes e felizes das propagandas, que todas fossem capazes de amamentar exclusivamente até os seis meses, que colo de mãe curasse tudo, dentre outras “verdades absolutas” que são usualmente faladas. Sem esquecer, claro, da expectativa de que as crianças não façam birra nunca, caso recebam a educação adequada em casa. Mas se eu precisasse escolher apenas uma dessas pérolas da sabedoria popular para se tornar verdade, ficaria com o conceito de que as mães conseguem dar conta de tudo, como se ganhassem super-poderes após o nascimento do bebê.

Gostaria sim de ser essa mulher idealizada, que consegue conciliar a maternidade, carreira, relacionamento amoroso, atividade física, hobbies e cuidados com a casa, sem deixar nenhum desses pratinhos cair. Seria maravilhoso saber preparar diariamente lanches caseiros, saudáveis, saborosos e variados, para minhas filhas levarem diariamente para a escola. Além disso, faríamos longas viagens de carro ou de avião sem que eu precisasse lançar mão de um celular ou tablet para entreter nenhuma criança. Seria sensacional dar conta de trabalhar em home office enquanto cuido das minhas filhas, fazer uma apresentação online ao mesmo tempo em que ajudo as pequenas a fazerem a lição de casa, ou me concentrar na leitura de um relatório enquanto intervenho para dar fim a uma briga entre as duas crianças.

Na prática, continuo com as mesmas limitações que eu tinha antes da maternidade. Mesmo sendo mãe, sigo não cozinhando bem, me apavorando quando vejo sangue e me atrasando para alguns compromissos. Me enrolo quando a escola demanda trabalhos manuais que exigem minha participação ativa, os penteados que faço nas minhas filhas ficam meio tortos e muitas vezes cochilo assistindo os filmes infantis que elas escolhem. Nem a capacidade de matar baratas consegui adquirir, muito menos as habilidades necessárias para criar minhas filhas sem precisar de uma rede de apoio.

A lista de atividades que acreditam que uma mãe consegue fazer (pelo simples fato de ser mãe) tende a infinito. Me dá água na boca só de imaginar uma realidade em que eu, de fato, fosse tão poderosa e conseguisse fazer tanta coisa bem feita simultaneamente. Quem dera, atingir esse ideal de perfeição.

Por isso, quando minha filha me perguntou, no meio de uma brincadeira: se eu pudesse ter um super-poder, qual eu escolheria? Não tive dúvidas. Não faço questão de voar, nem de ser invisível, muito menos de ter uma força extraordinária. Sem dúvida, minha escolha seria o super-poder das mães idealizadas, aquela que dão conta de tudo.

Disponível na 11ª edição da Revista Mães que Escrevem, p.8.