A saúde mental materna costuma depender da saúde mental do seu filho. Quanto maiores as questões relacionadas à saúde mental da cria, mais evidente se torna essa relação. Me arrisco a dizer que, nos casos em que o filho tem ideação suicida, é impossível que a saúde mental da mãe não seja, no mínimo impactada.
A ideação suicida de um filho testa diversos paradigmas da maternidade. A primeira ilusão a cair por terra é a de que a mãe coloca o filho sempre em primeiro lugar, antes até de si mesma. Esse tipo de experiência ensina, da forma mais dolorosa possível, a necessidade de priorizar a própria saúde mental, antes mesmo da do filho. Afinal, a mãe precisa se manter apta para tentar cuidar de alguém já tão debilitado, que nem quer ser cuidado.
Outro paradigma que vai por água abaixo é a imagem da mãe guerreira, que dá conta de tudo sozinha. Se já não costuma ser possível atingir este ideal de perfeição nas condições normais de temperatura e pressão, neste cenário é absolutamente impossível. A ideação suicida de um filho torna imprescindível uma rede de apoio não só para ajudar nos cuidados com a cria, mas também para preservar a saúde mental materna.
É extensa a lista das certezas maternas que são rasgadas no cenário de ideação suicida de um filho. Não faltam dizeres afirmando que Deus nunca nos dará algo além do que podemos suportar. A prática me leva a duvidar se alguém no mundo é realmente capaz de suportar ver um filho nestas condições. Segundo Nietzsche, “Aquilo que não me destrói, me fortalece”. O fato de estar escrevendo este texto comprova que não fui destruída, ao menos não totalmente. Entretanto, não me sinto mais forte do que antes, pelo contrário.
Por mais que a dificuldade seja um denominador comum a todas as mães que passam por esta situação (infelizmente, são muitas), cada uma vive sua dor de maneira específica, com influências da sua própria personalidade, da sua composição familiar, da sua condição financeira, da sua cor de pele, dentro outros diversos fatores. As consequências da ideação suicida também variam, caso a caso. Entretanto, independente do desfecho, a ideação suicida de um filho tende a ser um divisor de águas, distinguindo a experiência materna entre “antes” e “depois”. Confesso que ainda estou descobrindo como é a mãe que me tornei, considerando essa vivência. Ainda tenho dúvidas sobre o que sobreviveu da nossa relação mãe-filho. Por enquanto, uma das únicas certezas que alcancei é que a mãe que passa por uma tentativa de suicídio do filho também é uma sobrevivente.
Disponível na 12ª edição da revista Mães que Escrevem, p.40.