Na adolescência, costuma ter início a pressão para que as mulheres se encaixem em padrões de beleza impostos pela sociedade. Mesmo que tais padrões sejam inatingíveis de formas naturais e/ou saudáveis.
Na minha geração, a maneira de buscar aproximação com o ideal de beleza era com maquiagens e penteados. Atualmente, há diversos recursos adicionais, tanto na forma de procedimentos estéticos quanto na manipulação de imagens virtuais. Cabe então o questionamento: como nossas adolescentes estão construindo suas autoimagens? Será que a as jovens de hoje enxergam suas próprias belezas no espelho, quando não estão usando filtros digitais?
Em entrevista recente, a cantora e atriz Sandy relatou: “Eu não me sinto à vontade com que as pessoas me vejam nua e crua. Eu não ando sem maquiagem”. O relato de não se achar bonita sem a maquiagem parece refletir a realidade de uma parcela significativa das mulheres da minha geração. Com a diferença de que as demais mulheres, que não são a Sandy, não contam com um enorme fã-clube afirmando e reafirmando que elas são belas. Isso é, são mulheres que acreditam não serem bonitas e ponto final.
Buscando algum lado positivo nesse fato, ao menos as mulheres dessa geração se acostumaram a buscar artifícios que aproximem suas imagens reais aos ideais de beleza. Sendo assim, pelo menos quando se maquiam e se produzem, essas mulheres acreditam que estão bonitas.
Quando se trata da geração dos adolescentes de hoje, além das maquiagens e penteados, também são amplamente utilizados artifícios digitais. Então, na época em que essas adolescentes estão construindo suas próprias identidades, elas acreditam que não são bonitas por não atingirem padrões que nem existem no mundo real. Por não terem uma pele absolutamente lisinha como os filtros proporcionam. Por não terem a cintura de Barbie que pode ser alcançada com manipulação de imagem. Por não corresponderem ao conceito de beleza dos personagens criados por inteligência artificial.
Enquanto as mulheres brigam com o espelho cada vez mais, os homens parecem não passar por este tipo de dificuldade. Segundo a pesquisa encomendada pela GQ Brasil ao Instituto IDEIA, que entrevistou 663 homens maiores de 18 anos de todo o país, apenas 3% dos homens brasileiros se consideram feios. Esse abismo entre a autoimagem que os homens e as mulheres têm de si mesmos se inicia na adolescência. É nesse momento em que cada um cria os alicerces da imagem que tem de si mesmo.
Considerando que as adolescentes de hoje não costumam postar fotos sem o uso de filtros, me parece que estamos caminhando para um estágio mais avançado na falta de aceitação feminina de sua própria aparência. Será que essas adolescentes conseguirão algum dia enxergar suas próprias belezas no mundo real, sem a manipulação das imagens virtuais? Ou estamos caminhando para termos uma geração de mulheres que prefere substituir espelhos por telas com suas imagens alteradas?
Disponível em: https://maesqueescrevem.com.br/coluna-como-a-adolescente-de-hoje-constroi-sua-autoimagem/