Como o trabalho da mãe influencia o adolescente? – Revista Mães que Escrevem

Ao vivenciar com minha filha o planejamento das etapas posteriores à conclusão do seu ensino médio, acabo revisitando não somente minha experiência ao escolher um curso superior, mas também todos os desdobramentos de ter concluído uma faculdade, inclusive minha decisão de ser mãe enquanto exerço uma profissão.

Conciliar a maternidade e carreira sempre foi um desafio atrelado a muitas dúvidas e poucas respostas. Por um lado, é inquestionável a importância da independência financeira das mães que pode ser proporcionada através do exercício de trabalho remunerado. Além disso, ter uma carreira também pode ser fonte de realização, trazer reconhecimento e inúmeros outros benefícios para as mães.

Por outro lado, há poucas informações sobre quais os efeitos desta rotina de trabalho materno fora de casa no desenvolvimento dos filhos. Não é difícil enxergar os impactos que meu trabalho trouxe para a rotina da minha filha durante sua infância, quando eu não estava disponível para passar todas as tardes com ela de segunda a sexta. Mas quais seriam as implicações na sua adolescência e nas suas escolhas profissionais? E se a vivência de ter uma mãe que concilia carreira e maternidade tiver impactado negativamente minha filha, prejudicando seu futuro profissional?

Felizmente, em 2015 alguns pesquisadores da Harward Business School trouxeram alívio para o sentimento de culpa das mães que trabalham fora, através de um estudo que contou com respostas de 13.326 mulheres e 18.152 homens de 24 países desenvolvidos. Os resultados mostram que, de forma geral, os filhos podem se beneficiar ao terem mães que trabalham fora.

A pesquisa conclui que as filhas de mães que trabalham fora geralmente apresentam um desempenho melhor em suas carreiras do que filhas de mães que ficaram em casa. Embora na carreira dos filhos não tenha sido observado impacto decorrente da mãe trabalhar fora ou ficar em casa, o estudo conclui que aqueles cujas mães trabalhavam fora dedicam mais tempo aos cuidados com a casa e com a família. Segundo Kathleen L. McGinn, uma das autoras, há poucas coisas, que se tenha conhecimento, que impactem tanto a desigualdade de gêneros quanto ser criado por uma mãe que trabalha fora.

Por fim, para dar o golpe final na culpa materna, em 2018 foi realizada novo estudo de pesquisadores da Harward Business School, concluindo que filhos de mães que trabalham foram acabam tão felizes na vida adulta, quanto filhos de mães que ficaram em casa.

Cabe ressaltar que a ideia não é criticar as mães que não trabalham fora. Cada mãe tem sua história, devendo ser livre para fazer suas escolhas livre de julgamentos. Interpretar estas pesquisas como uma condenação às mães que não trabalham fora, simplesmente aliviaria a culpa de algumas mães aumentando a de outras. O resultado final seguiria sendo desfavorável para as mães de forma geral.

De toda forma, ocupando meu lugar de fala como mãe que trabalha fora, é inegável o conforto proporcionado pelo resultado dessas pesquisas. Que minha experiência de mãe que trabalha fora possa contribuir positivamente para minha filha traçar o futuro que ela quiser. Que suas vivências decorrentes da minha carreira abram seus horizontes e apontem na direção de um futuro com muita felicidade e menos desigualdade de gênero. Um futuro em que o termo “pai que trabalha fora” seja usado com a mesma frequência do que “mãe que trabalha fora”.

https://www.hbs.edu/news/articles/Pages/mcginn-working-mom.aspx

https://hbswk.hbs.edu/item/kids-of-working-moms-grow-into-happy-adults

https://www.instagram.com/p/C6zZaaHvG7N/?igsh=cHM2Mmk5bmFsc3Fw

Disponível em: https://maesqueescrevem.com.br/como-o-trabalho-da-mae-incluencia-o-adolescente/