O exercício da maternidade é diferente para cada mãe. Entretanto, quando me tornei mãe após os quarenta anos, notei que essa experiência traz particularidades ainda mais específicas, relacionadas não somente à idade da progenitora, mas também à sua maturidade.
A maternidade nessa faixa etária vem se tornando cada vez mais frequente em nossa sociedade, o que leva à necessidade de dar visibilidade e aumentar o entendimento sobre a realidade de quem chega à maternidade com mais idade. Segundo Estudo de Estatísticas de gênero divulgado pelo IBGE em março de 2024, o grupo de bebês nascidos de mães entre 40 e 49 anos passou de 90,9 mil em 2018 para 106,1 mil em 2022. O estudo conclui que o número de filhos por mulher no Brasil caiu 13% entre 2018 e 2023, mas cresceu 16,8% dentre aquelas com mais de 40 anos.
Apesar de nossa sociedade etarista exacerbar somente as dificuldades relacionadas ao avanço da idade, há também inúmeros pontos positivos que fazem com que a experiência da maternidade após os quarenta anos não seja melhor nem pior do que em outras fases da vida da mãe, mas somente diferente.
Após os quarenta anos, realmente é mais difícil começar um dia após uma noite mal dormida cuidando de um bebê, ou com os efeitos de uma ressaca. Mas isso não me impede de cuidar da minha filha durante as noites, nem de beber umas taças de vinho eventualmente. Na minha idade, é mais provável sentir dor nas costas ou algum outro desconforto físico por carregar a criança, principalmente quando ela já tem mais de quinze quilos. Por isso, a recomendação de fazer reforço muscular ganha ênfase nessa faixa etária. Além disso, minha visão de perto não é mais como antes, mas continuo perfeitamente apta para ler historinhas antes de dormir e ajudar no dever de casa, no máximo demandando o uso de óculos.
Entretanto, as diferenças no exercício da maternidade das mulheres com mais de quarenta anos não se limitam a eventuais alterações físicas decorrentes da idade. A maturidade tende a reduzir a busca de ser a mãe perfeita e a frustração por não atingir esse objetivo. A experiência de quem já quarentou costuma trazer mais entendimento sobre a importância da divisão de tarefas e responsabilidades com o pai da criança e a necessidade de contar com uma rede de apoio. Em muitos casos, o adiamento da maternidade é influenciado pelo investimento prévio em educação e carreira, levando essas mães a terem mais estabilidade e independência financeira. Além disso, estas mães já contam com décadas de aprendizado sobre autoconhecimento, autocuidado, autoestima, autovalorização e outros conceitos importantes que elas começaram a se familiarizar antes do surgimento de redes sociais e influencers.
Não sou uma mãe de mais de quarenta anos com alma de jovem. Isso seria desqualificar quem tem minha idade, como se só as jovens (ou as pessoas com alma jovem) tivessem as qualidades necessárias para o bom exercício da maternidade. Não sou, nem tento ser, uma mulher que nem aparento a idade que tenho. Não sou mais como eu era há dez ou vinte anos, e me orgulho disso. Não me ancorei em nenhum período ou idade do passado, sempre segui buscando evoluir, ganhar experiência e alcançar maturidade.
Mesmo estando ciente e de bem com minha idade, me senti extremamente desconfortável numa ocasião em que uma mulher perguntou se eu era a avó da minha filha. Ao notar minha reação, ela perguntou quantos anos eu tinha e me relatou que tinha se tornado avó quando era mais nova do que eu. Biologicamente, é possível gestar antes dos vinte anos, levando algumas mulheres de quarenta anos a serem avós. Por outro lado, os avanços da medicina reprodutiva viabilizam cada vez mais a gestação após os quarenta anos. Além disso, há diferentes contextos sociais e culturais que influenciam o planejamento familiar e o acesso a métodos de contracepção. Diante de realidades tão distintas, o melhor é que as mães e avós da mesma faixa etária se reconheçam em suas semelhanças, em vez de se sentirem atacadas pelas suas diferenças. Meu desconforto original ao ser questionada se sou avó da minha filha é tão somente um reflexo da sociedade etarista em que estamos inseridos.
Dizem que mãe é tudo igual, só muda o endereço. Reconheço que há, sim, algo que é comum à todas que passam pela experiência da maternidade, algo que nos une e desperta o sentimento de sororidade. Por outro lado, existem inúmeros fatores que tornam cada mãe única e diferente das demais. Dentro desse universo de semelhanças e diferenças, as mulheres que se tornam mães com mais de quarenta anos compõe um subgrupo interessante. A maternidade na maturidade tende a ganhar contornos serenos e estáveis, contando com um aprendizado que não é possível através de leituras nem de cursos, mas somente com a experiência.
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