Aos seis meses de idade, minha filha começou a fazer adaptação na creche. Todos os dias de manhã, eu caminhava pelas ruas até lá, levando a pequena em seu carrinho. No caminho, ela escutava o barulho dos carros e ônibus, sentia o cheiro da padaria, olhava para um grafite colorido e passava por outras pessoas, algumas passeando com seus animais. Na creche, ela comecava a vivenciar nossa separação, entendendo que somos duas pessoas distintas, além de conviver com outras crianças e contar com profissionais capacitados para proporcionar os estímulos adequados para sua idade. Nos meses seguintes, eu planejava procurar também uma aula de natação para ela.
Só que depois de duas semanas de adaptação, veio o isolamento social e passamos a ficar fechadas em casa. Hoje, aos nove meses, ela não conhece nada nem ninguém que não esteja dentro do nosso apartamento. Foi postergada, por tempo indeterminado, a etapa em que ela descobriria que não constituímos uma só unidade. Seu processo de socialização está temporariamente restrito a quem mora com a gente, sem nenhuma expansão. Ela não lembra mais de quando brincou na areia ou viu um cachorro. Tudo o que minha bebê conhece está restrito ao que existe dentro das quatro paredes do nosso apartamento.
Sei (ou espero) que é só uma questão de tempo para a necessidade de isolamento social acabar. Provavelmente, essa época vai virar uma lembrança esquisita para a maioria das pessoas, sem grandes consequências. Mas no caso dos bebês, tenho a impressão de que o confinamento pode deixar marcas, por ocorrer em meses tão cruciais para o desenvolvimento. Claro que a maior convivência com a família direta, durante esse período, é um fator positivo a ser considerado. Ainda assim, tenho duvidas sobre o saldo dessa difícil equação na formação dos bebês da quarentena. Torço para que essas crianças continuem tendo todas as ferramentas para a construção de um futuro melhor para todos.