Brasileiros, assim como outros latinos, são famosos por se comunicarem de forma mais livre e próxima. Os cariocas sempre foram exagerados nesse quesito, conversando em qualquer lugar com pessoas que nem conhecem, seja na praia ou no trabalho. Sendo uma carioca que trabalha há muitos anos no Rio de Janeiro, me acostumei a uma rotina em que conversas e brincadeiras permeavam todas as quarenta (ou mais) horas semanais no escritório.
Só que veio a pandemia e passei quase dois anos em home office, assim como a maioria dos meus colegas. Tivemos que aprender a trabalhar em casa. Uma das mil novidades dessa realidade foi o novo hábito de trabalhar sozinha num ambiente silencioso, sem as conversas e brincadeiras.
Após esse longo período, estamos voltando ao escritório, num formato bem diferente do anterior à pandemia. Além das alterações descritas no material disponibilizado pela empresa sobre o retorno ao trabalho presencial, noto que desaprendemos, ou nos desacostumamos, a interagir com os colegas ao longo da jornada de trabalho.
De forma geral, cada um chega com seu laptop, senta numa mesa e trabalha em silêncio, como passou quase dois anos fazendo em casa, fazendo pouca diferença entre estar no escritório da empresa ou não. O ambiente em que diariamente um comentava sobre o filho, o outro sobre o cachorro, um terceiro contava sobre um problema com o carro, foi substituído por algo que me lembra uma starbucks, onde cada um trabalha isoladamente sem nem conhecer quem por acaso sentou ao seu lado naquele dia. Mesmo as reuniões com pessoas que estão no mesmo prédio, muitas vezes são feitas só virtualmente, com cada um em sua estação de trabalho conectado na sala virtual.
Torço para o tempo trazer o reaprendizado sobre a convivência com colegas de trabalho fora do ambiente virtual. Que a gente volte a caminhar até a sala de reunião enquanto conversa sobre futebol, quem sabe até volte a comprar um bolo para comemorar o aniversário de alguém no fim do dia (sonhar não custa nada). A pandemia e a necessidade de isolamento impactaram cada pessoa de um jeito. Mas na essência, continuamos sendo seres sociáveis, dentro ou fora do ambiente de trabalho. Que seja somente uma fase de transição, para voltarmos a interagir com naturalidade com as pessoas que passam oito horas trabalhando ao nosso lado.
A cultura da empresa é construída diariamente através da forma das equipes trabalharem. Até agora, esse bem intangível sempre foi motivo de orgulho para mim e para diversos colegas da empresa em que trabalho. Torço para que continue sendo uma cultura em que cada um enxerga seu colega além do que a câmera do laptop é capaz de mostrar.
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