Em todos os meus sonhos a respeito da vida de mãe, sempre me imaginei morando com minha filha até que ela se tornasse independente o suficiente para ter sua própria casa. Nunca considerei isso uma expectativa minha a ser cumprida pela pequena, mas um detalhe técnico desejado da minha realização como mãe.
Naturalmente, o tempo foi passando, minha filha foi crescendo, conquistando sua independência e formulando seus próprios planos. O que eu não havia previsto é que, nos planos dela, estava a prática de um esporte que só era possível se ela morasse com os avós. A partir daí, começou minha experiência de não morar com minha própria filha.
Para mim, é tão difícil lidar com essa realidade, que nem costumo usar essas palavras. Sem perceber, uso eufemismos e digo que ela tem ficado muito na casa dos meus pais, por exemplo. Mas racionalmente, sei que minhas vontades e sonhos não são a prioridade para tomada de decisão sobre a vida da minha filha. O protagonismo é dela e cabe a mim ocupar o papel de coadjuvante apoiando suas decisões, me orgulhando de sua independência. Está fora de cogitação querer que ela abra mão do seu sonho de atleta para que eu realize o meu, de morarmos juntas.
Acontece que minhas dores e dificuldades não deixam de existir só porque racionalmente sei que não são coerentes. O mais dolorido costuma ser o que acontece nas entrelinhas, fugindo ao meu autocontrole, enquanto repito para mim mesma que está tudo bem comigo porque o importante é minha filha estar bem. Realmente, vê-la feliz é sim uma fonte de felicidade minha, que convive pacificamente (ou não) com minha dificuldade de não estarmos morando juntas. Me orgulho também de ter estimulado tanto sua independência, a ponto dela conseguir traçar seus objetivos como ela faz. Ainda assim, vejo que o quarto da minha filha atualmente é habitado por diversos monstros que saem de dentro da minha cabeça para me diminuir por não morarmos mais juntas.
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