Sou da época em que se trabalhava pelo menos quarenta horas semanais no escritório, ao lado das mesmas pessoas. No meu caso, por trabalhar há muito tempo na mesma empresa, era comum ter esse convívio diário no ambiente de trabalho com as mesmas pessoas por anos. Naturalmente, dessa convivência surgiam amizades, sentimento de pertencimento e, desejavelmente, assim eram formadas equipes.
Falar sobre essa realidade para a minha geração traz identificação e nostalgia. Mas apesar de ser um passado não tão distante, para as novas gerações, essa realidade parece a época dos dinossauros, com conceitos ultrapassados. Provavelmente, os mais novos escutam histórias de quando o trabalho era sempre presencial com o mesmo estranhamento que sinto quando as gerações anteriores relatam que antigamente não existiam computadores e o mercado valorizava curso de datilografia.
A nova realidade não comporta mais esse convívio diário nos escritórios, trazendo a possibilidade ou necessidade do trabalho remoto. Experimenta-se também o regime híbrido, alternando o teletrabalho com o trabalho presencial, mas tenho dúvidas se essa proposta é valorizada pelas novas gerações que não carregam o saudosismo das relações de trabalho antes da pandemia de covid-19.
Neste novo modelo, ainda não consigo enxergar com clareza como serão construídas as relações de trabalho, o sentimento de pertencimento, a motivação, e tudo o mais que sempre me pareceu ser fundamentado principalmente no convívio diário. Há uma transição em curso, que certamente será mais fácil e natural para os que já vão iniciar a vida profissional neste novo cenário. Para os da minha geração, essa mudança vem acompanhada da certeza de que, por mais que nos esforcemos para nos adaptar, já começamos a virar dinossauros que vivenciaram uma época que hoje é impensável.